1 de junho de 2013

Porque hoje é dia da criança - O amor de pais para filhos

“Dois, três, quatro anos, cinco talvez?
Não tem importância, diz-se que o amor dura sete anos. Vamos, sê honesta e responde-me. Serias capaz, durante sete anos, de te entregares a um indivíduo sem qualquer reserva, de dar tudo sem moderação, sem apreensão nem dúvida, sabendo que essa pessoa que amas mais do que tudo no mundo esquecerá quase tudo o que viveram juntos? Aceitarias que as tuas atenções e os teus gestos de amor se apagassem da sua memória e que a natureza, que tem horror ao vazio, preencha um dia essa amnésia com censuras e lamentas?
Sabendo que isso é inevitável, terias ainda assim a força de te levantares a meio da noite quando o amor da tua vida tem sede ou simplesmente um pesadelo?
Terias todas as manhãs vontade de lhe preparar o pequeno-almoço, de lhe ocupar os dias, de o divertir, de lhe ler histórias quando se sente aborrecido, de lhe cantar canções, de sair de casa porque precisa de apanhar ar, mesmo quando o frio se torna glaciar; e depois, ao chegar a noite, ignorarias o teu cansaço, irias sentar-te ao pé da sua cama para acalmares os seus medos falar-lhe do futuro que viverá forçosamente longe de ti? Se a tua resposta a cada uma destas perguntas é sim, então perdoa-me por te ter julgado mal, então sim, sabes realmente o que é amor.
- É da mamã que estás a falar?
- Não, minha querida, é de ti. Este amor que acabo de te descrever é o de um pai ou de uma mãe em relação aos seus filhos. Quantos dias e quantas noites passámos a velar por ti, a espreitar o mínimo perigo que te poderia ameaçar, a contemplar-te, a ajudar-te a crescer, a secar as tuas lágrimas, a fazer-te rir, quantos parques no Inverno e praias no Verão frequentámos, quilómetros percorridos, palavras repetidas, tempo que te foi dedicado. E no entanto, no entanto… a que idade remontam as tuas primeiras recordações de infância?
Imaginas tu até que ponto é preciso amar para aprender a viver apenas para os filhos, sabendo que se esquecerão tudo sobre os seus primeiros anos, que os anos que viverem provocar-lhes-ão sofrimento se falharmos na educação deles e na nossa entrega, que um dia virá, inelutavelmente, em que nos deixarão, orgulhos da sua liberdade.
Censuras as minhas ausências; mas conheces a amargura que se vive no dia em que os filhos se vão embora? Já imaginaste o sabor dessa ruptura? Vou dizer-te o que acontece: ficamos com cara de parvos à entrada da porta a ver-vos partir, a convencermo-nos de que nos devemos regozijar com esse voo necessário, que devemos amar a indiferença que vos impele e nos despoja da nossa própria carne. Fechada a porta é preciso reaprender tudo; mobilar as divisões vazias, deixar de ouvir o ruído dos passos, esquecer os estalidos tranquilizadores da escada quando chegavam tarde a casa e podíamos por fim adormecer tranquilamente, quando no futuro é necessário procurar o sono em vão, porque vocês não regressarão. Como vês, minha querida Julia, nenhum pai e nenhuma mãe retira de tudo isto qualquer glória, pois isto significa amar, e não temos outra escolha porque vos amamos.” 

As coisas que nunca dissemos
de Marc Levy

2 comentários: